quinta-feira, 30 de maio de 2019

NOTA DA PASTORAL CARCERÁRIA NACIONAL SOBRE AS MORTES NAS PRISÕES EM MANAUS







O que você está sentindo? Hoje em Manaus ocorreu mais um desastre: a lei da vida foi traída, pisada, anulada. Se colocamos algumas vidas na série A, e outras na segunda categoria, estamos dispostos a aceitar que haja condições onde o índio possa valer menos, o negro possa valer menos, o estrangeiro (não branco, é claro!) possa valer menos. A estrada da discriminação leva longe. A cadeia encandeia: de um lado cega nossos sentimentos de piedade, do outro mostra com clareza que precisamos de luz, de reflexão. É noite para a minha alma, é noite também para o meu corpo. Hoje a noite partilho a reflexão sobre a escuridão.
Padre João, Coordenador Estadual da Pastoral Carcerária de Manaus (26.05.2019)
É na dor do luto e na esperança da luta por uma vida libertada do sistema prisional que a Pastoral Carcerária Nacional vem se posicionar frente a mais um massacre fruto do aprisionamento em massa, do descaso com vidas tidas como descartáveis, da ganância de empresas privadas e do genocídio protagonizado pelo Estado brasileiro.
Desde domingo, quando 15 presos foram mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, a contagem de corpos não cessou. Nesses últimos dias, ao menos 55 pessoas foram encontradas sem vida no Compaj e em outras três unidades prisionais do Amazonas: IPAT, CPDM 1 e UPP – sem contar o número de feridos -, em um episódio que nos remete diretamente à série de massacres de 2017.
Essas mortes não acontecem por conta da tão alardeada briga de facções, narrativa traiçoeira que despeja sobre parcelas da população prisional a responsabilidade por episódios que são as consequências inevitáveis de um sistema prisional cuja função principal é a produção de dor, sofrimento e mortes; e sim pela manutenção da lógica de encarceramento em massa e banalização das vidas, de aprisionar e exterminar uma população indesejável, em sua maioria pobre e negra, o que reafirma a responsabilidade inequívoca do Estado pela barbárie.
Em nota feita em 2017, quando ao menos 56 presos foram mortos no Compaj, junto a outros 75 em outros presídios do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte [1] , a Pastoral Carcerária já afirmava:“Se a opção que alertávamos há tempos era pelo desencarceramento ou barbárie, o Estado de forma clara e reiterada optou pela barbárie.” Esta se materializa tanto nas violações cotidianas e nas mortes naturalizadas pelas estatísticas, como nos massacres em massa do passado e do presente. Como pontuado na época, “já não se trata mais de uma crise, mas de um projeto.”
O que acontece em Manaus agora, assim como os massacres de 2017, o Massacre do Carandiru em 1992 e tantos outros, não são uma exceção do sistema prisional, e sim parte do seu funcionamento. Não se trata, portanto, de uma ausência do Estado, mas de sua presença, por meio de um gigantesco sistema de encarceramento e controle, que coloca o Brasil na posição de 3º país que mais encarcera no mundo. As mortes destes últimos dias ocorrem em diferentes unidades prisionais privatizadas, todas administradas pela mesma empresa, a Umanizzare.
Em relatório divulgado em 2017 o Ministério Público do Amazonas revelou que a empresa recebe do Estado R$ 4,7 mil por preso, valor muito acima da média nacional. E ainda, mesmo com a grande quantidade de mortos nas unidades da Umanizzare em 2017, o Governo do Amazonas, em 2018, prorrogou os contratos com a empresa [2] . Apenas para o Compaj, unidade com maior número de mortos, o Estado paga um valor mensal superior a 5 milhões de reais.
Em 2014, a empresa utilizou parte do dinheiro recebido para realizar doações significativas para campanhas de candidatos ao Governo do Estado [3] e à Assembleia Legislativa [4]. Que interesses têm a Umanizzare em certos mandatos e projetos pautados? Preocupada com o avanço da privatização dos presídios, a Frente Estadual pelo Desencarceramento de São Paulo pontuou, sobre a relação imbricada entre o interesse das empresas em prisões e a aprovação de projetos punitivistas: “aliados (…) operam uma lógica perversa em que, quanto mais presos houver, mais dinheiro essas empresas recebem, afinal, transforma-se a gestão prisional em fonte de lucro e os presos em mercadoria” [5].
Mesmo com grandes volumes de verbas, as unidades privadas se encontram em condições absolutamente degradantes, e em regra são as famílias que fornecem itens básicos para garantir a sobrevivência das pessoas encarceradas, evidenciando como não há presídio – seja público ou privado, com maior ou menor gasto – capaz de garantir a vida e a integridade dos seus custodiados.
Em nota, a Umanizzare afirmou que “trabalha em conjunto com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária – SEAP no apoio necessário à retomada da normalidade dentro das unidades” [6]. No entanto, o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura realizou uma visita ao Compaj em fevereiro de 2018 e constatou, na normalidade do funcionamento da unidade, que havia racionamento de água, ausência de oferta de trabalho, insuficiência de colchões, falta de medicação, má qualidade dos kits de higiene e irregularidade na entrega, falta de horário e espaço adequados para a realização de visitas íntimas e religiosas com a privacidade e tempo necessários [7], cenário semelhante ao que se observa no cotidiano em cada presídio pelo país, na escuridão das celas fora do espetáculo dos massacres.
Em solidariedade às famílias de tantas vítimas do sistema prisional – as 55 que agora se foram e as mais de 700 mil que lutam cotidianamente para sobreviver em um sistema de produção de morte – a Pastoral Carcerária Nacional, guiada pela missão de Jesus de Nazaré de libertar as pessoas privadas de liberdade (cf. Lc 4,18), reafirma seu compromisso com a vida e reforça a importância de uma comoção social ampla frente a mais um caso de genocídio promovido pelo Estado brasileiro. Negligenciar essa luta necessária e urgente por um mundo sem prisões é compactuar com a barbárie.
Texto: Pastoral Carcerária Nacional

Pastoral Carcerária Estadual do Amazonas


sexta-feira, 24 de maio de 2019

Arquidiocese realiza a 9ª edição da Formação Missionária para Seminaristas (Formise)


Entre os dias 24 e 26 de maio, a Arquidiocese de Juiz de Fora sediará a nona edição da Formação Missionária para Seminaristas (Formise) do Regional Leste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O evento acontecerá no Seminário Santo Antônio e contará com a presença de mais de 60 seminaristas dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

O tema será “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”, em consonância com o Mês Missionário Extraordinário convocado por Papa Francisco para outubro deste ano. O responsável por conduzir as reflexões será o secretário nacional da Pontifícia União Missionária, Padre Antônio Niemiec. Durante o Formise, ainda haverá uma reunião do Conselho Missionário Regional (Comire). 


Tarick Cardoso, seminarista da Comunidade Propedêutica e da Paróquia Nossa Senhora do Líbano, ressaltou a importância deste encontro para continuidade das missões. "Esse encontro vai nos fazer refletir no trabalho da Igreja e missionário, além de vermos onde podemos ajudar em prol da missão. Quando chegar em Outubro, mês missionário, poder colocar tudo em prática".


Este será o primeiro encontro organizado pelo Conselho Missionário de Seminaristas (Comise) de nossa Igreja Particular, implantado no último dia 4 de abril. A celebração de abertura do Formise será nesta sexta-feira, às 19h, na Catedral de Juiz de Fora. 


O arcebispo metropolitano, Dom Gil Antônio Moreira, presidirá a Santa Missa, concelebrada pelo bispo da Diocese de Guaxupé (MG) e assessor do Comire no Regional Leste 2, Dom José Lanza Neto.




Veja a programação completa:


Sexta-feira, 24 de maio


17h – Acolhida dos participantes e credenciamento.


18h – Lanche


19h – Missa de Abertura do IX FORMISE Regional presidida por Dom Gil Antônio Moreira


20h – Translado dos seminaristas para o Seminário Arquidiocesano


20h30 – Jantar


21h30 - Esboço do caminho a ser percorrido – Introdução e levantamento das expectativas (Padre Antônio)


Sábado, 25 de maio


8hrs – Laudes


8h30 – Café da Manhã


9hs – Explanação do Assessor (Padre Antônio)


10h30 – Intervalo (cafezinho)


10h50 – Explanação do Assessor (Padre Antônio)


12h – Almoço


14h30 – Explanação do Assessor (Padre Antônio)


15h30 – Intervalo (cafezinho)


16h – Espiritualidade na ação Missionária (Pe. Patrick – diretor espiritual do COMISE).


16h40 – Encontro com os Coordenadores de COMISE e partilha entre Província Eclesiástica.


18h – Intervalo


19h – Missa (Padre Antônio)


20h – Jantar (com noite cultural)


21h30 – Apresentação das Atividades dos COMISES nas Dioceses.


22h30 - Completas


Domingo, 26 de maio


8h – Oração


8h30 – Café da Manhã


9h – Conclusão da temática (Padre Antônio)


10h - Abordagem sobre o COMISE e encaminhamentos para caminhada do COMISE Regional (Filipe – Coordenador do COMISE Regional Leste 2)


11h – Missa de envio presidida por Dom José Lanza


12h – Almoço

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Pastoral Carcerária do Regional Leste 2 realiza 21º edição do Encontro e Assembleia


Pensando em promover um momento de reflexão e partilha das alegrias e angustias a luz de reflexões a partir do tema da Campanha da Fraternidade 2019, “Fraternidade e Políticas Públicas”, a Pastoral Carcerária promoveu, entre os dias 03 a 05 de maio, o 21º Encontro e Assembleia da Pastoral Carcerária do Regional Leste 2. O evento foi realizado na Diocese de Patos de Minas (MG), na cidade de Carmo do Paranaíba.

Dezenas de coordenadores da Pastoral Carcerária das Arqui(Dioceses) do Regional Leste 2, representantes que tenham caminhada Pastoral e que possam ser multiplicadores de conteúdo e demais interessados estiveram presentes participando do evento. 

De acordo com o assessor eclesiástico da Pastoral Carcerária, Pe. Welington Nascimento, todos e todas foram acolhidos de maneira calorosa para participar do encontro. “O encontro pode estimular um momento de crescimento e estreitamento dos laços fraternos, que desde já está unido em oração”, afirmou. “Além disso, tivemos a oportunidade de partilhar as alegrias e angustias a partir de Políticas Públicas para quem está preso”, completou. Padre Almir, vice coordenador da Pastoral, também participou do encontro. 

Formação Jurídica
Durante o evento, ocorreu um momento de formação jurídica com Dílson Marques, o assessor jurídico da Pastoral Carcerária. A palestra tratou sobre alguns pontos, sendo: Conselho de Comunidades; Órgão da execução penal nos termos do art. 61, VII, da LEP - O que é o Conselho; atuação e Dimensão Jurídica.

Eleição
Aproveitou-se a realização do encontro para também eleger os novos membros da Coordenação Colegiada Regional / Estadual da Pastoral Carceraria. Os eleitos foram:

Bispo referencial: Dom Marco Aurélio
Assessores Eclesiásticos: Padre Welington Nascimento e Padre Ernesto
Assessor Jurídico: Dílson Marques

Coordenação colegiada da Pastoral Carcerária
Belo Horizonte: Lourdes
Uberlândia: Maria José
Mariana: Magda
Itabira / Cel. Fabriciano: Vicente e Zé Carlos
Luz: Rosalina

Suplentes
Milton, Maria Lucia de Souza e Manoel Messias

Para acessar as fotos do encontro, clique aqui.