quinta-feira, 26 de setembro de 2019

ARTIGO | DESCRÉDITO DAS DENÚNCIAS: MEDO OU PERVERSIDADE?

Por Mayra Balan*, da Pastoral Carcerária
A Pastoral Carcerária Nacional recebe casos de tortura em presídios diariamente, pelos mais diversos meios, como telefone, e-mail, cartas e relatos de agentes da pastoral.
Para dar andamento aos casos, a Pastoral comunica e cobra as instituições de justiça a fazer o que lhes cabe por lei: fiscalizar e providenciar medidas para a situação vulnerável a qual as pessoas encarceradas são submetidas.
Nesses andamentos, com muita frequência, percebe-se que estas instituições e seus agentes – promotores, juízes – não se esforçam em ouvir a população prisional, vítimas das torturas, e, muitas vezes, sequer vão às unidades prisionais onde a denúncia ocorreu.
Ao apurar os casos, é comum que as medidas tomadas se baseiem única e exclusivamente naquilo relatado pela direção da unidade prisional que, por várias vezes, é produtora e/ou conivente com a tortura praticada.
Tornam os corpos alvos do sistema penal – negros e pobres, já marginalizados – impassíveis de voz diante de atos praticados contra eles.
Um caso marcante do descrédito das instituições para com relatos de tortura aconteceu no início deste ano. Durante uma visita a um presídio, a denunciante percebeu que vários presos estavam com hematomas e indícios de violência brutal.
Ao perguntar o porquê disso, foi relatado que houve agressões físicas dos agentes penitenciários aos presos como parte de um castigo coletivo. Os presos não foram levados para o exame de corpo de delito e a assistência médica da unidade era bastante deficiente.
Diante dessa situação, o Ministério Público, quando indagado pela Pastoral Carcerária, respondeu que a direção da unidade foi oficiada, o diretor disse que não ocorreu agressão e nem há negligência médica. O resultado é que as afirmações do diretor foram tidas como verdadeiras, arquivando o processo. Nenhum preso foi ouvido e o promotor não saiu de seu gabinete para fazer a apuração.
Em outro caso, a denúncia informava que a comida dada aos presos era azeda, diversas pessoas estavam com o quadro de saúde debilitado e inexistia atendimento médico, além do uso de spray de pimenta num ambiente já sufocante.
O Judiciário, quando provocado pela Pastoral, nada fez além de oficiar o diretor da unidade, que iniciou a comunicação dizendo: “A unidade trabalha ancorada na legalidade, sendo que todos os procedimentos prestam observância aos preceitos constitucionais e à dignidade no tratamento dos apenados”.
Aqueles que já visitaram um presídio, conhecem um sobrevivente do sistema ou se atentam às notícias sabem que as unidades prisionais, seja na infraestrutura ou no tratamento, não prezam pela dignidade dos presos. E ainda que o fizessem, são por si só um instrumento de segregação e tortura.
Ao ver tamanho absurdo, pode-se pensar que, nos casos onde ocorre esse descrédito das denúncias, ignorando-se a voz dos presos, o Judiciário tem medo de mexer em algo tão sensível quanto o sistema carcerário; medo de ver, na realidade, situações que eles ajudaram a causar, pois são esses órgãos que produzem sentenças e alimentam a massa carcerária.
Mas ao ver respostas tão cruéis para denúncias que deveriam ser investigadas, e pensando na lógica do sistema prisional, percebe-se um caráter perverso, tanto das instituições quanto de seus reprodutores.
“Deixem que se matem”. É o pensamento que ecoa dentro dessa estrutura. Mas o que não é dito é que essa fabricação de mortes tem como engrenagem o sistema penal, que opera numa lógica maquiavélica e perpétua de produção de corpos sem voz, torturáveis e, por fim, matáveis.
(*) Mayra Balan é integrante da equipe jurídica da Pastoral Carcerária Nacional

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Crianças carentes de três municípios do Norte de Minas recebem brinquedos em madeira produzidos por detentos


900 peças levaram alegria a meninos e meninas de São João das Missões, Bonito de Minas e Juvenília, cidades com os menores Índices de Desenvolvimento Humano do Estado

No início do mês, brinquedos e jogos de madeira produzidos dentro das marcenarias instaladas no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, e na Penitenciária José Edson Cavalieri, em Juiz de Fora, chegaram às mãos de crianças de três cidades do Norte de Minas: São João das Missões, Bonito de Minas e Juvenília. As peças foram entregues por cerca de 150 voluntários da Organização Não Governamental (ONG) Amigos de Minas, junto com 25 mil quilos de alimentos e 850 quilos de roupas arrecadados pela instituição. Todos os brinquedos foram produzidos por presos, desde o corte da madeira, polia e pintura.
Durante a entrega, feita pelos voluntários da ONG, os irmãos Elenilson e Ariel, 8 e 11 anos respectivamente, escolheram carrinhos de madeira e já saíram brincando pelo quintal da casa, na Comunidade Catinguinha, situada dentro da Reserva Indígena dos Xacriabás, em São João das Missões. O município tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Minas Gerais, por isso foi um dos escolhidos pela ONG Amigos de Minas para receber as doações.
A superintendente de Humanização do Atendimento, Louise Bernardes França, do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen MG), considera a doação dos brinquedos um movimento dotado de “representações de altíssima relevância” aos presos e à sociedade. “Para os presos, significa incentivo para continuidade da contribuição social, por meio de seu trabalho. Já para a sociedade, demonstração dos frutos positivos alcançados pela ressocialização dos recuperandos”, destaca a superintendente. O projeto é uma iniciativa do Depen MG, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), viabilizado pela Diretoria de Trabalho e Produção.
Tamyres Cristina Oliveira, 25 anos, é uma das voluntárias que percorreu mais de uma hora em estrada de terra, na carroceria de um caminhão, para fazer as doações em São João das Missões. Ela atua nesta missão há mais de três anos, já participou de dez entregas, desde a entrada no grupo, e desta vez ainda levou o pai e a mãe para trabalharem voluntariamente. “Os brinquedos são muito bem feitos e ainda trazem um grande valor agregado. As crianças adoraram, especialmente por serem de madeira e coloridos” destacou a voluntária.
Fábrica da Alegria
A maior parte dos brinquedos doados no Norte de Minas foram confeccionados com madeira ilegal, apreendida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). O projeto Fábrica da Alegria começou na Penitenciária José Edson Cavalieri, por meio do Tribunal de Justiça, e em seguida foi implantado no Complexo Penitenciário Nelson Hungria.
As peças criadas e fabricadas por presos estão presentes na brinquedoteca do Hospital da Baleia, na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente e na Delegacia de Plantão Especializada em Atendimento à Mulher, dentre outras instituições. Eles trazem um pouco de alegria e distração para as crianças, que precisam dos serviços de entidades e órgãos públicos.
Duas outras unidades prisionais passaram a integrar, recentemente, o Projeto Fábrica da Alegria: as penitenciárias de Três Corações, no Sul de Minas, e a Dênio Moreira de Carvalho, em Ipaba, com a produção de peças em suas oficinas.
Amigo de Minas
A ONG Amigos de Minas foi criada em 2001, por Idair Antônio Vieira após a perda de um de seus filhos em um acidente de carro. Com o dinheiro recebido pelo seguro DPVAT, ele e a família decidiram ajudar com alimentos famílias necessitadas da cidade de Pai Pedro, no Norte de Minas.

Para a entrega foi necessária a utilização de duas carretas para o transporte de todo o material, mais os veículos de apoio. Foram cerca de 1.500 pessoas envolvidas em arrecadação, separação de material, empacotamento, carregamento das carretas, mobilização de recursos e entrega. A próxima será realizada em dezembro, e toda a logística dobra de tamanho.
“É um trabalho transformador!”, considera Marlene Valverde, voluntária da ONG desde a fundação. Ela conhece as histórias de vida de centenas de moradores dos municípios atendidos, e continua viajando em caminhões e caminhonetes, levando alimentos e esperança para o Norte de Minas.
 Fonte: Site da SEAP


quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Sínodo para a Amazônia

O sínodo para a Amazônia foi uma resposta do Papa Francisco à realidade da Pan-Amazônia. De acordo com Francisco, "o objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta. 

Precisamos rezar pelo Sínodo para a Amazônia. Por isso, segue abaixo a oração. 

ORAÇÃO PELO SÍNODO PARA A AMAZÔNIA

Deus Pai, Filho e Espírito Santo, iluminai com a vossa graça a Igreja que está na Amazônia.
Ajudai-nos a preparar com alegria, fé e esperança o Sínodo Pan-Amazônico: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

Abri nossos olhos, nossa mente e coração para acolhermos o que vosso Espírito diz à Igreja na Amazônia.

Suscitai discípulas e discípulos missionários, que, pela palavra e o testemunho de vida, anunciem o Evangelho
aos povos da Amazônia, e assumam a defesa da terra, das florestas e dos rios da região, contra a destruição, poluição e morte.

Nossa Senhora de Nazaré,
Rainha da Amazônia,
intercedei por nós, para que nunca nos faltem coragem e paixão, lado a lado com vosso filho Jesus. Amém!

terça-feira, 10 de setembro de 2019

PRESAS DENUNCIAM TORTURA DE AGENTES DA FORÇA NACIONAL NO PRESÍDIO DE ANANINDEUA

Fonte: Pastoral Carcerária Nacional
Abuso de autoridade, pressão psicológica, tortura, vistoria irregular, foram algumas denúncias das mulheres que estão presas no Centro de Reeducação Feminino (CRF), no bairro do Coqueiro, em Ananindeua. Elas acusam os agentes da Força Nacional de tentar impor autoridade na cadeia à base de violência.
De acordo com a advogada Cristiana Bentes, são relatados vários abusos, como deixar as detentas só de calcinha e sutiã, atirar spray de pimenta e até deixá-las sem energia durante a noite. Além disso, não há agentes femininas para fazer a vistoria nas presas, os próprios homens obrigam as presas a ficarem seminuas, descumprindo a legislação.
“A sala está alagada de urina, vômito, fezes e somos obrigadas a ficar sentadas. 50 presas têm que fazer quatro filas só, se ficar cinco filas a gente pega spray de pimenta na cara”, relata uma ex-presa, que não quis se identificar.
A advogada ressalta, que os agentes chamam as presas, elas têm que levantar, uma por uma, repetir tudo que eles falam e depois eles acham graça da situação. “Ontem saí de alvará e mandaram eu falar seis vezes: estou saindo de alvará, mas vou sentir falta da força. Um falou para mim assim: tua sorte que tua advogada está aí na frente, porque agora que vai começar a brincadeira”, denuncia uma das presas, que saiu na quarta-feira, 4, do presídio.
Segundo Cristiana, quando sua cliente saiu, ela relatou que desmaiou cinco vezes de tanto gás e spray de pimenta que jogaram na cela. “A comida é servida, mas como comer sufocada de gás e spray?”, questiona a advogada. “O grito do lado de fora das mães, que se acumulam frente ao presídio pedem socorro e imploram que não agridam suas filhas”, acentua a advogada.
Violação da Lei de Execução Penal e dos Direitos Humanos
De acordo com a Lei 7.210/1984 de Execução Penal no artigo 41, os presos têm direitos, como, por exemplo, à alimentação suficiente e vestuário. Assim como, entrevista pessoal e reservada com o advogado, igualdade de tratamento.
“A lei relata que o estado é responsável por manter a integridade física e moral dos presos, que o advogado tem livre acesso para entrevistar os seus clientes, a finalidade da pena é ressociliazar e não tratar de forma desumana”, ressalta a advogada.
“Elas não podem reclamar e sair para fazer as suas necessidades fisiológicas e o excesso de spray de pimenta e bomba de gás faz com que algumas desmaiem. Ficar em uma situação desumana viola a dignidade da pessoa humana, direito assegurado na Constituição Federal”, denuncia.
O Portal Roma News entrou em contato com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe) para saber quais providências serão tomadas, mas o órgão respondeu que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) que está responsável pelo presídio.
Em nota, o Depen respondeu que ontem, 4, houve retomada do controle do Centro de Recuperação Feminina e que foi encontrada uma significativa quantidade drogas, celulares e outros objetos não permitidos.
Desespero dos familiares
As famílias fazem vigília na frente do presídio e imploram para que suas filhas, mães, sobrinhas e netas não sejam torturadas. “Várias mães estão lá na frente fazendo vigília e até uma ambulância quando entra para lá elas começam a chorar”, diz.
“As roupas das meninas foram queimadas, jogaram até fezes nelas, nem carta podemos mandar, ficaram o dia todo molhadas”, diz em prantos a mãe de uma detenta.
“Nós escutávamos os gritos delas e eles gritando ‘Quem manda é a força’. É um desespero ver nossas filhas sofrendo nas mãos deles. Eles são o terror. Estão massacrando as meninas aí dentro, está tudo quebrado. Só vamos vê-las em 30 dias, sinal de que elas estão machucadas”, destaca. “A gente escuta os gritos delas lá dentro pedindo socorro”, denuncia outra mãe.
A intervenção federal nos presídios
Quarenta e seis agentes da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP), do Departamento Penitenciário Nacional, chegaram em Belém no mês de julho para reforçar atividades de guarda, vigilância e custódia de presos.
O reforço foi possível após pedido do governador Helder Barbalho ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para atuação operacional dos agentes no Estado diante do ocorrido no Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRA).